Desafios da produção estatística em regiões amazônicas reúne pesquisadores internacionais

Especialistas discutiram desafios para ampliar estatísticas sobre conservação, proteção de populações vulneráveis e gestão de recursos naturais

mesa “Os desafios da produção estatística em países do Bioma Amazônia” reuniu, na manhã desta sexta-feira (05/12), pesquisadores de diferentes países durante a Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE), em Salvador, sob mediação de Andrea Diniz da Silva, chefe de Relações Internacionais do IBGE.

A equatoriana Marianita de Lourdes Granda León, subdiretora-geral do INEC, abriu a discussão destacando a presença amazônica no Equador: “Para que tenham um contexto, o Equador tem 18 milhões de pessoas, e a população que se encontra na Amazônia representa 5% da população do Equador. Por outro lado, o território total do país é de 256.370 km², e a área amazônica ocupa 120.000 km², o que equivale a 45% do país”.

Ela apresentou iniciativas do INEC, como indicadores de cor/raça que identificaram a região como área de alta concentração indígena (40,5%) e mestiça (56,1%) - termo adotado na classificação do instituto do país. Também citou dados ambientais, como denúncias padronizadas — “Em 2024, foram 809 denúncias ambientais, das quais 16 provenientes da região amazônica” — e reflorestamento: “Em 2024, 1.513,53 hectares foram reflorestados, o equivalente a 23% a nível nacional”.

Marianita ressaltou desafios para ampliar estatísticas sobre conservação, proteção de populações vulneráveis e gestão de recursos naturais, mencionando dificuldades logísticas, bases desatualizadas e temas sensíveis. “Nas populações dessas províncias, encontramos situações muito hierarquizadas, em que líderes decidem, nosso escritório de estatística tem muita experiência e consegue convencer pela postura mais política”, explicou, acrescentando que o tempo de cobertura pode demandar três vezes mais trabalho do recenseador do que a média nacional.

Na sequência, Alejandro Rojas, diretor de Registros Administrativos do DANE, da Colômbia, destacou: “É um país com uma forte seção amazônica. Ainda que represente apenas 6% da Amazônia, ela representa 40% do nosso território”. Ele apresentou dados da região: 480.000 km², 183 territórios indígenas (20% do território nacional) e cerca de 1,1 milhão de habitantes (2% da população). Entre os desafios, citou a falta de proteção territorial, disputas agropecuárias, narcotráfico e brechas nos registros administrativos. “Nos falta 10% da população nos registros da região e, pelo que vimos, estão muito concentrados em níveis de pobreza”, afirmou.

Alejandro também apresentou pesquisa sobre uso do tempo, com dados coletados entre 2024 e 2025, que pela primeira vez teve representatividade na Amazônia colombiana. O estudo revelou intensa assimetria no trabalho não remunerado entre homens e mulheres, “um fato que aponta a necessidade de políticas públicas para essas mulheres”.

Por fim, Manuela Mendonça de Alvarenga, da Coordenação de Meio Ambiente do IBGE, abordou a Amazônia brasileira, maior bioma do país, ocupando 49% do território nacional. “Um desafio do ponto de vista ambiental é de que ele não é exatamente homogêneo”, ponderou. Ela defendeu investigações considerando subdivisões do bioma e apresentou dados sobre desmatamento: “O que causa a maior perda de floresta do ponto de vista território é a expansão de área de pastagem, mas elas seguem estradas, obras de infraestrutura... [...] existem padrões a serem compreendidos para se pensar em políticas de conservação”.

Manuela explicou diferentes recortes utilizados para estudar a região, como a Amazônia Legal e a Região Hidrográfica Amazônica, e concluiu: “[São] diferentes recortes para pensar esse desafio quando a gente fala em Amazônia. A minha defesa é de que se mantenham diferentes recortes para diferentes objetivos”.

O presidente do IBGE, Márcio Pochmann, acompanhou a mesa e sugeriu a criação de um fórum conjunto entre os institutos dos países amazônicos, “que esses institutos viessem a compor um fórum de tratamento conjunto a respeito do tema”. A proposta foi bem recebida pelos representantes internacionais.

Organizada pelo IBGE, com apoio do Governo do Estado da Bahia, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), do Senai Cimatec, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da União dos Municípios da Bahia (UPB), a Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE) tem patrocínio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).

Serviço:

Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE)

Tema: Uma proposta de Plano Geral de Informações Estatísticas e Geográficas (PGIEG) para o Desenvolvimento do Brasil na Era Digital, no período entre 2026 e 2030.

As mesas internacionais terão tradução.

Data: 3 a 5 de dezembro, em Salvador (BA)

Local: Instalações do SENAI Cimatec e do SESI

Endereço: Av. Orlando Gomes, 1845 – Piatã.