Soberania na Era Digital é tema de debate no primeiro dia da CONFEST/CONFEGE
Na tarde dessa quarta-feira (03/12), o tema “A pesquisa em Comunicação, Documentação e Disseminação como um dos eixos centrais da Soberania na Era Digital” conduziu uma das discussões do primeiro dia da Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE), realizada em Salvador (BA). A mesa foi organizada pela Coordenação de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI-CCS).
A primeira palestra foi de Danielle Barreiros, da Coordenação de Atendimento e Informações (COATI) do IBGE, que destacou a importância do letramento informacional em um cenário marcado pela “infodemia”: “o excesso de informação em detrimento da qualidade”. “A gente tem que ter um senso crítico para poder consumir a informação que se tem acesso”, explicou, alertando para a necessidade da capacitação do cidadão para identificar conteúdos propositalmente voltados para desinformação.
Danielle também aprofundou a necessidade de um letramento estatístico, a partir da “noção de que o pensamento estatístico pode melhorar a sua vida e na tomada de decisão, não só de entes públicos e políticos, mas também do cidadão comum”, defendendo posturas e ações institucionais que estimulem a compreensão do uso de dados, a partir de uma perspectiva crítica: “quem recolhe, por que os recolhe, [é preciso] compreender a proveniência dos dados”.
Em sua apresentação, Danielle ressaltou que o usuário da informação estatística não é só o especialista, “é o que potencialmente poderia consumir informação produzida pelo IBGE, ou o que não sabe que tem essa necessidade”. “E a gente precisa mostrar para ele que essa necessidade pode vir a existir”, explicou, reforçando a necessidade de ações de letramento informacional: “O direito à informação é um direito constitucional e está relacionado à cidadania. O foco tem que ser em todo tipo de usuário”.
A segunda palestrante, Andrea Medrado, professora associada da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e vice-presidente da International Association for Media and Communication Research (Associação Internacional de Pesquisa em Mídia e Comunicação), relatou experiências e produções referentes à Soberania Digital, destacando assimetrias entre o Norte e o Sul Global na perspectiva dos avanços tecnológicos, e também apresentou alguns achados referentes às suas pesquisas conduzidas junto a usuários de Inteligência Artificial.
Como pesquisadora em universidades britânicas, Andrea vivenciou no ambiente acadêmico a relação que chamou de “outrificação”: “é muito comum pegar uma abordagem metodológica para se testar no Sul e provar que funciona, mas o que acontece quando a gente faz o movimento contrário?”, comentou, referindo-se a suas propostas de inversão dos fluxos, entre Norte e Sul Global, sem ignorar os desafios envolvidos na relação. “Há o desequilíbrio de poder que persiste e a nova colonialidade de dados, processos que estão remodelando o poder digital global e que aprofundam essas simetrias”, ponderou.
A pesquisadora apresentou sua perspectiva de fomentar a Soberania Digital no Sul Global — considerando as diversas realidades que compõem esse Sul — pois, segundo a estudiosa, “quem é do Sul é ‘o outro’, na perspectiva de assimetria de poder geopolítico”. “Quando o Sul é sempre o lugar de se fazer o teste, é importante se pensar nesses fluxos”, justificou, ao defender a ideia de um “projeto de solidariedade política, ainda que seja incompleta e [com] começos de conversas sobre legados e feridas coloniais e processos de cura”.
Durante a apresentação, Andrea apresentou seu projeto de “IA para o bem social”, realizado em Londres, em 2022, no qual destacou a questão da empatia, cuja ausência foi percebida pelos usuários estudados, no processo de resolução de problemas pela ferramenta utilizada. Dentro desse conceito de empatia, que Andrea explorou pela ótica de diferentes autores e sob o viés dessa desigualdade geopolítica, a pesquisadora apresentou seu novo projeto em andamento, “Favel IA”, inspirada no projeto piloto desenvolvido em Londres.
Entre seus achados, Andrea apontou a presença do uso para aconselhamento e busca pela referência empática na ferramenta, identificação de oportunidades para resolução de problemas por parte desses usuários, mas também a questão da ansiedade em relação a se manterem atualizados ou de terem seus trabalhos ameaçados. As assimetrias também foram ressaltadas, apontando o custo dolarizado das melhores ferramentas. “Tudo isso passa pela questão da desumanização. A ideia da tecnologia de humanização e do valor das sabedorias e conhecimentos plurais são muito importantes”, ponderou.
Organizada pelo IBGE, com apoio do Governo do Estado da Bahia, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), do Senai Cimatec, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da União dos Municípios da Bahia (UPB), a Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE) tem patrocínio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e do Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).
Serviço:
Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE)
Tema: Uma proposta de Plano Geral de Informações Estatísticas e Geográficas (PGIEG) para o Desenvolvimento do Brasil na Era Digital, no período entre 2026 e 2030.
As mesas internacionais terão tradução.
Data: 3 a 5 de dezembro, em Salvador (BA)
Local: Instalações do SENAI Cimatec e do SESI
Endereço: Av. Orlando Gomes, 1845 – Piatã.