Emoção e gratidão foram visíveis na mesa sobre Ciência de Dados na Educação Pública

Palestrantes compartilharam vivências que evidenciam o papel da educação pública na construção de uma sociedade mais justa e equitativa

Discutir experiências e metodologias do Programa Ciência de Dados na Educação Pública, iniciativa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que integra formação científica, inclusão digital e letramento de dados em escolas públicas - este foi o tema da mesa “Ciência de Dados na Educação Pública: Caminhos para a Equidade e Participação Cidadã”, realizada na manhã desta quinta-feira (04/12), durante a Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE), que acontece em Salvador (BA). Moderada por Karla Patricia Oliveira Esquerre, Professora Titular da Universidade Federal da Bahia - UFBA, Pesquisadora de Produtividade e Pesquisa - CNPq e líder do Gamma Lab e do Programa Ciência de Dados na Educação Pública, a mesa apresentou o programa que parte da premissa de que a ciência de dados é uma ferramenta estratégica para a transformação social e para o fortalecimento da cidadania, especialmente quando aplicada em contextos educacionais e territoriais que dialogam com as realidades locais.

A proposta se insere diretamente nos eixos Tecnologia, Coleta e Interoperabilidade e Gestão de Fluxos de Produção de Informações e de Disseminação, ao articular fontes múltiplas de dados — educacionais, ambientais, demográficos e territoriais — com práticas colaborativas de coleta, análise e disseminação de informações. Os dados e metodologias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desempenham papel central nessa integração, servindo como referência para o desenvolvimento de competências em leitura, interpretação e uso crítico de estatísticas públicas, e também para a construção de novas plataformas abertas, como o portal (re)Conhecendo Salvador), aproximando o conhecimento estatístico das práticas pedagógicas e da vida cotidiana das comunidades escolares.

Durante a mesa, realizada no Auditório CIMATEC 3, lideranças e estudantes que participaram ou participam do Programa compartilharam vivências que evidenciam o papel da educação pública na construção de uma sociedade mais justa e equitativa em uma realidade orientada por dados. Foram apresentados exemplos de como o letramento e o pensamento crítico orientados por dados promovem a autonomia das juventudes, fortalecem o engajamento social e contribuem para políticas públicas baseadas em evidências, com destaque para a inclusão de meninas e estudantes afro-descendentes.

O ponto de partida para a discussão proposta foi a compreensão de que a educação em dados vai além da formação técnica: trata-se de uma estratégia para desenvolver autonomia, pensamento crítico e engajamento social entre jovens de diferentes origens. Inserida em múltiplos níveis educacionais — do ensino fundamental à pós-graduação — a iniciativa integra a ciência de dados aos currículos escolares e universitários, alinhando-se às demandas da complexa sociedade atual e da transformação digital na educação.

Karla contou que o projeto nasceu em 2019, sob o nome "Meninas na Ciência de Dados", e tinha como estudantes garotas bolsistas do Fundamental I. "O desafio era gerar encantamento, atrair o público de escolas que não conheciam a área de ciência de dados, trazer conhecimentos de dados em formato acessível e engajador dentro de um ambiente de escola pública, com formatos lúdicos", lembra, acrescentando que o projeto tem "quatro carros-chefe: ciência de dados, inteligência artificial, pensamento científico de problemas da cidade e da sociedade, e protagonismo racial, social e de gênero". Atualmente, Programa Ciência de Dados na Educação Pública tem como público meninas e meninos e atende mais de mil estudantes a partir da UFBA, com "atividades formativas e informativas, oficinas em formato engajador, atividades de conexão da teoria com a prática, traduzidas através de projetos científicos", relata Karla.

A mesa teve como palestrantes Carolina Opretzka, graduanda em Engenharia Química pela UFBA; pesquisadora de iniciação científica do Gamma Lab; Anthony de Jesus, graduando em Psicologia pela UFBA; pesquisador de iniciação científica do Gamma Lab; Gabrielle dos Santos, graduanda em Letras pela UFBA; Gabrielle Tereza dos Santos, graduanda em Letras pela Universidade Estácio de Sá; Ana Paula dos Santos, graduanda em Sistemas de Informação pela Universidade Estadual da Bahia - UNEB; Juliana de Moraes, graduanda em Estatística pela UFBA; pesquisadora de iniciação científica do Gamma Lab e Karin Beatriz de Souza, graduanda em Arquitetura pela UFBA. Todos foram alunos do Meninas na Ciência de Dados e hoje, graduandos, contaram como o projeto impactou suas vidas, com acesso a tecnologia e conhecimento de ciência de dados e inteligência artificial; e como esta oportunidade de estudo norteou suas atuais escolhas profissionais e acadêmicas, abrindo caminhos e ampliando o conhecimento. Em especial, as egressas destacaram que o projeto foi um reconhecimento de que mulheres, mulheres pretas e mulheres pretas de escolas públicas "têm lugar na universidade e na área científica e de pesquisas". Por fim, todos se declararam muito gratos ao projeto.

Era visível o orgulho e a emoção de todos que participavam da mesa, pela formação de cidadãos conscientes, produtores e usuários de dados. "Reforçamos a visão crítica de que o conhecimento, para ser validado academicamente, precisa passar pelo processo do conhecimento científico para que seja passível de crítica", afirmou Simão Urpia, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da UFBA, que foi professor dos palestrantes, quando ainda eram adolescentes. "Apostamos na importância da formação em dados dos jovens, desde o ensino básico ao superior, como forma de transformação da vida dos jovens na cidade, com base no poder de decisão baseado em dados".

Cedma Santos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da UFBA, e que também participa do projeto, destacou a integração de ensino, pesquisa e extensão, de forma integrada, em ciência de dados. "Os estudantes percebem os dados, que se tornam interpretação e passam a ser ação. Trata-se de ampliar a percepção do estudante como um agente de transformação, para transformar a cidade através da ciência de dados, com uma sensação de pertencimento, ao mesmo tempo em que se conta a história dos ambientes por onde eles transitam. É a construção não apenas de uma cidadania tradicional, mas também a cidadania digital, de a pessoa pensar quem ela é, como produtora e usuária de dados". Cedma pontua que “para se chegar em soluções simples para problemas sociais, é necessário um olhar aguçado": "Precisamos pensar em como os dados podem fortalecer o exercício da cidadania e a implementação de políticas públicas efetivas. Não se alcança a equidade apenas ao se promover acesso tecnológico; a equidade segue o caminho da consciência, das reflexões que conseguimos, como sociedade, estimular nos jovens".

Organizada pelo IBGE, com apoio do Governo do Estado da Bahia, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), do Senai Cimatec, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da União dos Municípios da Bahia (UPB), a Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE) tem patrocínio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e do Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).

Serviço:

Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados (CONFEST/CONFEGE)

Tema: Uma proposta de Plano Geral de Informações Estatísticas e Geográficas (PGIEG) para o Desenvolvimento do Brasil na Era Digital, no período entre 2026 e 2030.

As mesas internacionais terão tradução.

Data: 3 a 5 de dezembro, em Salvador (BA)

Local: Instalações do SENAI Cimatec e do SESI

Endereço: Av. Orlando Gomes, 1845 – Piatã.