Com o intuito de construir um conceito operacional e capaz de abarcar a diversidade das favelas e comunidades urbanas brasileiras, o IBGE, no contexto de preparação do Censo Demográfico de 1991, cunhou o termo “aglomerado subnormal” para representar e classificar as favelas, comunidades, vilas, palafitas etc. A ideia de subnormalidade e, associada a ela, de carência ou falta como marcadores desses territórios, vem sendo alvo de críticas provenientes da academia, órgãos públicos e movimentos sociais. Embora este não tenha sido o objetivo do Instituto, cuja preocupação central esteve na operacionalidade e padronização do conceito, abordagens críticas apontam para a possibilidade de que seu uso tenha produzido ou reforçado estigmas sobre esses territórios. Tendo essa perspectiva como ponto de partida, a roda de conversa Representações, classificações e narrativas sobre as favelas e comunidades urbanas brasileiras e o papel do IBGE objetiva debater quais são e de onde provêm as narrativas estigmatizantes sobre esses territórios e como elas são, simultaneamente, parte das causas e das consequências das representações e classificações produzidas pelo IBGE. Pretende-se, ainda, analisar o papel que o IBGE pode desempenhar para a superação dessas narrativas, enfrentando o desafio de retratar a realidade brasileira e considerando que esses territórios, ao mesmo tempo em que não podem ser considerados simplesmente por meio de marcadores como o da carência, apresentam uma permanente violação e desassistência de direitos fundamentais.

Mediadora:

Letícia Giannella

Oceanógrafa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2006), Mestre em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2009) e Doutora em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (2015). Desenvolveu sua tese de doutorado sobre conflitos urbanos envolvendo o projeto Porto Maravilha e territórios populares da zona portuária do Rio de Janeiro, com destaque para a Favela da Providência. É Pesquisadora em Informações Geográficas e Estatísticas do IBGE desde 2014, atuando na Pós-Graduação Stricto e Lato Sensu da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE). Atualmente, compõe o Grupo de Trabalho sobre Favelas e Comunidades Urbanas da Coordenação de Geografia do Instituto. Tem orientado e realizado pesquisas sobre neoliberalização urbana e conflitos urbanos e ambientais em territórios populares.

Debatedores da roda 3:

Laís Borges (Museu das Favelas)

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com bacharelado e licenciatura na mesma área pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). Pesquisadora do Museu das Favelas, com pesquisas nas áreas de antropologia urbana, raça, gênero, decolonialidade, corpos e alteridades. Atuante em núcleos de formação política e de incentivo a iniciativas autônomas de gestão popular em territórios periféricos.

Jailson Souza e Silva (BNDES)

Graduado em Geografia pela UFRJ (1984), doutor em Sociologia da Educação pela PUC-Rio (1999), com pós-doutorado pelo John Jay College of Criminal Justice - City University of New York. Fellow da Ashoka - rede internacional de empreendedores sociais; ex-professor da Universidade Federal Fluminense; ex-secretário de Educação de Nova Iguaçu e ex-subsecretário executivo da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Fundador do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro e da Universidade Internacional das Periferias/IMJA; membro do Conselho Curador da Fundação Tide Setúbal; assessor da presidência do BNDES. Escritor de mais de quinze livros, além de pesquisas e trabalhos publicados, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas sociais, favelas, periferias, violência, educação e tráfico de drogas.

Ju do Coroadinho (PerifaConnection)

Mulher preta, favelada, defensora dos direitos humanos, militante do movimento negro. Fundadora do coletivo de mulheres negras da periferia, assistente social e diretora da rede Perifaconnection.

Sônia Fleury (Dicionário de Favelas Marielle Franco)

Pesquisadora Sênior do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz. Coordenadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Doutora em Ciência Política, Mestre em Sociologia, Psicóloga. Professora aposentada da EBAPE/FGV e da ENSP/FIOCRUZ. Ampla produção acadêmica nas áreas de Democracia, Cidadania, Gestão Pública.