Desde o primeiro recenseamento sobre as favelas cariocas, realizado pela prefeitura do Distrito Federal em 1948, e que resultou, dois anos depois, na inserção, pela primeira vez, das favelas como unidade censitária específica no recenseamento nacional decenal de 1950, o IBGE realizou levantamentos destes recortes territoriais em todos os Censos seguintes. No Censo de 1950, diante da ausência de endereçamento das ruas e casas das favelas, os recenseadores pregavam um cartão com as inscrições DGE (Departamento de Geografia e Estatística) nas portas das casas para identificar que o censo já tinha passado por ali. Uma das dificuldades do recenseamento foi a identificação das casas, já que não havia emplacamento das ruas nem numeração das casas pelos quais pudesse se orientar o recenseador. Isso parece ter sido uma das maiores dificuldades dos primeiros recenseamentos de favelas. Guimarães (1953) relata que o trabalho foi feito com a organização da numeração das casas e o levantamento de cada favela, à base dos croquis desenhados em cada setor percorrido pelos recenseadores. Desde o primeiro Censo em favelas realizado pelo IBGE foram muitas as melhorias no sistema de mapeamento e coleta. A partir de 2007 a coleta deixou de ser realizada com questionários de papel e passou a ser feita com PDA, um dispositivo móvel de coleta. O censo de 2010 introduziu, assim, o trabalho com imagens de satélite de alta resolução, o que representou uma mudança qualitativa para a identificação das áreas em relação aos censos passados. As imagens foram utilizadas para encontrar partes dos municípios que possuíssem morfologia característica de aglomerados subnormais e que seriam, posteriormente, investigadas em campo para a confirmação das características. Outra inovação no tratamento do tema, segundo o IBGE, foi a realização de pesquisa específica – Levantamento de Informações Territoriais (LIT) – com o objetivo de melhorar a identificação e a caracterização dos aglomerados subnormais, composta por um módulo de campo (LIT-Campo) e outro módulo de investigação junto às prefeituras (LIT-Prefeitura). Tanto a observação de campo quanto o trabalho junto às prefeituras permitiram uma melhor identificação dos padrões urbanísticos e da situação fundiária e legal dos possíveis aglomerados subnormais, contribuindo, finalmente, para a atualização dos cadastros e mapas censitários (IBGE, 2010, p. 25). Para o CD2022 foram muitas as inovações introduzidas: A BIOS - Base de Informações sobre Setores Censitários, um banco de dados com informações por setores, tais como, restrição de segurança, logística especial de acesso, logística especial de coleta dentro do setor, dentre outras.  A atualização das quadras e faces do CNEFE na pesquisa do Entorno Urbanístico dos Municípios, realizada antes da coleta domiciliar. O georeferenciamento de todos os endereços em AGSNs. A Adesivação dos domicílios em AGSNs. O Fechamento dos Municípios, onde foram analisados, para os 11.403 AGSNs, as variáveis de cobertura dos setores e população 2010 x 2020, através da PGI - Plataforma Geográfica Interativa, que mostra espacialmente o andamento da coleta por recorte geográfico e as Repacs dos AGSNs, cujo objetivo é solicitar as prefeituras bases de dados sobre os AGSNs, assim como, homologar a existência, as áreas, os nomes e verificar a existência de palafitas nos AGSN. Apesar de todas as inovações introduzidas, ainda existe a necessidade de discutirmos e melhorarmos os métodos de seleção, coleta, análise e divulgação das informações dos AGSNs.

Mediador:

Jaison Cervi

Servidor do IBGE desde 2000, Tecnologista Senior, Chefe do Setor de Territórios Sociais/SETES/GPET/CGEO/DGC, responsável temático dos AGSNs. Graduado em Direito pela UFBA, com especialização em Direito Ambiental, Bacharel em Geografia pela UFRJ, Licenciado em Geografia pela UFRJ, Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela ENCE, Aluno especial do Doutorado em Geografia pela UFSC. Participou dos últimos três Censos Demográficos, como supervisor, instrutor e conteudista temático da elaboração da metodologia e do treinamento da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, da Contagem Populacional de 2007, dos Censos Agropecuários de 2007 e 2017/2018, realizou várias atividades relacionadas aos AGSNs no CD2022, como o Guia de Coleta e Supervisão, mutirões, acompanhamento e coleta. Atualmente, desenvolve a divulgação e a atualização das Bases Territoriais dos AGSNs.

Debatedores da roda 5:

Andréa Pulici (IPP)

Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é Coordenadora de pesquisa, monitoramento e avaliação da área de ESG da CEDAE do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Durante 8 anos foi diretora de Projetos especiais do Instituto Pereira Passos. Tem experiência na área de Planejamento Urbano, formulação de indicadores, pesquisa de campo em favelas e avaliação de impacto. Foi coordenadora executiva do Observatório Imobiliário e de Políticas do Solo da UFRJ, consultora da Secretaria de Habitação e do Banco Mundial para monitoramento e avaliação de política pública, em especial em áreas de favela objeto de intervenção urbana. Coordenou o desenho e a implementação do Índice de Progresso Social da Cidade do Rio de Janeiro, o desenho de avaliação de impacto do Programa de Urbanização de Assentamentos Precários do Rio, o desenho do Programa de Moradia do Reviver Centro, Censo de População em situação de rua e desenhou e coordenou o Programa Territórios Sociais, que realiza busca ativa das famílias em vulnerabilidades sociais na cidade do Rio de Janeiro.

Vanessa Freitas (ONU-Habitat)

Desde o início de 2022, é Analista de Programas da ONU-Habitat Brasil, sendo ponto focal do Projeto de Urbanização Sustentável da Izidora. Foi professora substituta do Instituto Federal de Minas Gerais. Possui graduação (2007) e mestrado (2020) em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, tendo como principal foco de atuação o planejamento urbano abordando políticas de habitação de interesse social.

Wellington Fernandes (Quebrada Maps)

Educador e geógrafo. Há 15 anos atua como educador junto a crianças, jovens e adultos, na educação formal e em espaços de educação popular. Desde a graduação (USP) pesquisa cartografia crítica e participativa e no mestrado (USP) aproximou este debate ao ensino de geografia. Preocupado com a promoção de uma cartografia engajada, idealizou o projeto Quebrada Maps. Metodologia experimental de diálogo com os territórios periféricos a partir de mapas críticos e participativos. Suas experimentações acontecem tanto em escolas públicas, como através de parcerias com movimentos sociais e a universidade.

Clístenes Mendonça

Gerente de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais substituto da SES-DF. Enfermeiro de Família e Comunidade. Especialista em Gestão da Estratégia Saúde da Família. Especialista em Docência em Enfermagem. Educador Popular em Saúde. Presidente da Câmara Técnica de Atenção à Saúde da População LGBTQIA+ do DF.